Empatia de Verdade é Cortar da Própria Carne
Na fábula O PORCO E A GALINHA, no sanduíche X Egg Bacon a galinha participa doando seus ovos; mas o porco é que se compromete, pois ele doa sua carne.
Nessa discussão sobre “Todos parados em casa” X “A economia que tem que girar moderadamente”, só agora está sendo permitido pensar em outras estratégias, como o isolamento e cuidados com os grupos de risco apenas, permitindo que os demais trabalhem seguindo protocolos mais rígidos. É fruto do cuidado em ser politicamente correto, mesmo aflito com seus pontos de vista mais íntimos.
DE ONDE VEM O DINHEIRO?
Vejo com aflição o discurso de que o Estado deverá atuar infinitamente, gerando dívidas, pagando a todos que perderem a renda. Este mesmo Estado deverá fazer todos os investimentos necessários na saúde e pesquisa. Depois, virão as demandas de segurança pública, pois o desemprego e falta de dinheiro das famílias poderão gerar um caos social não visto ainda. As demandas não pararão, pois tem a educação, infraestrutura, programas sociais…
A pergunta é: de onde virá o dinheiro?
Essa visão romântica não cabe para quem tem um mínimo de consciência de que todo dinheiro público vem da sociedade que produz e paga impostos. Se a economia quebra, quebra também o Estado que depende dela!
Sem produção e negócios, não há renda, nem arrecadação, nem possibilidade de gerar empregos, nem Estado com dinheiro para investir. Óbvio!
O Estado é apenas um ser fictício que tem pessoas que gerenciam e redistribuem recursos retirados dos bolsos de todas as famílias, pois é do preço final das coisas e rendas pessoais que saem os impostos.
Para ouvir com paciência os comentários de funcionários públicos, políticos e pessoas que continuarão com suas rendas estáveis, só se aceitarem ficar sem suas rendas, ou cortar bastante para que o Estado que os sustenta possa redistribuir e fazer seu papel social. Claro, apenas enquanto durar essa paralisação e retomada das atividades e negócios pelas empresas.
Penso que, se cada funcionário público ouvisse agora que correria enormes riscos de perder seu emprego caso a quarentena durasse mais de 30 dias, e que ainda teria uma dívida enorme para pagar ao invés de direitos trabalhistas, certamente o discurso mudaria.
Essa é a realidade dos demais mortais: empreendedores e empregados conscientes de que a empresa em que trabalham precisa faturar para terem seus trabalhos e renda.
Claro que me preocupo com as pessoas que estão nos grupos de risco e que morrerão. Minha mãe, tios, sogros, filhas, vários amigos que amo fazem parte. Cada um deverá fazer a sua parte e cuidar para que se exponham minimamente a mais esse risco… pois há diversos outros por aí! Um olho no gato, e outro no peixe.
O MUNDO REAL DE QUEM TEM NEGÓCIOS ESTÁ DESESPERADOR!
Enquanto isso, a esmagadora maioria dos empreendedores de micro e pequenos negócios (99% dos negócios do Brasil e 56% dos empregos) está desesperada com a real possibilidade de quebrarem e levarem seus sonhos, família e colaboradores para o buraco. Sim, a imensa maioria se preocupa, e muito, com seus colaboradores!
As crises econômicas e mudanças nos paradigmas dos negócios levaram o nível de água para muito próximo do nariz; essa crise atual, se forçada além do limite com esse shutdown, vai matar muito mais empresas e empregos que vidas.
Saber que cada cadeira do estádio Mané Garrincha de Brasília compraria um respirador; que o nosso Congresso arrecada e gasta mais que 80% dos municípios brasileiros; que apenas o fundo eleitoral consumirá o que gastamos até agora com a saúde contra o COVID-19; que só em MG a queda de arrecadação em 2020 será de 40%, onde já tínhamos mais de 80% da arrecadação comprometida com inativos e funcionalismo… Bem, precisaremos mesmo repensar muita coisa e errar menos daqui para frente, porque os governos anteriores já erraram o suficiente, apesar de seus políticos representantes afirmarem ter todas as soluções para as aflições atuais.
SOBRE A FÁBULA DO PORCO E DA GALINHA…
Se a solução é que o Estado brasileiro banque, que os participantes do Estado também deem sua cota, mesmo que doando ovos. Doar o bacon significaria perderem seus empregos e terminarem endividados, o que não é o caso!
Por isso, sou a favor de que se debatam sobre essas três medidas:
- Redução dos salários de todos os funcionários públicos (de todas as esferas) que ganhem acima de uma faixa salarial – que seja R$5mil ou R$10mil – e todos esses recursos sejam distribuídos para a sociedade que precisará sobreviver minimamente até que as coisas voltem ao normal;
- Transferência e direcionamento dos fundos eleitorais e partidários, além de todos os benefícios de parlamentares, políticos e gestores de empresas públicas para contenção desta crise, enquanto durar;
- Que, a partir dos 14 dias de quarentena, a estratégia seja de isolamento apenas dos grupos de risco, com estabelecimento de rígidos protocolos e muito cuidado com os idosos e crianças, onde a informação deverá acontecer dentro das empresas com impacto nos comportamentos em casa.
A partir daí, poderemos ter um debate sob condições um pouco mais equalizadas, pois é mais fácil pensar no outro quando temos uma ideia da sua dor, e não passamos o chapéu sem colocar antes nosso dinheiro lá dentro.
Pelo menos uma certeza eu tenho: tudo isso será uma oportunidade de melhorarmos e tudo vai acabar bem! Dizem que no plano astral, ao contrário do que percebemos, está lindo de se ver.
(*) Rafael Lucchesi Gomes é Sócio-Diretor da LUCCHESI Inteligência em Negócios: Graduado em Administração pela UFMG, tem especialização em Consultoria para Pequenos Negócios pela FIA/USP; em Agentes de Desenvolvimento em Cooperativas, pelo UNICENTRO Newton Paiva/MG; Ferramentas de Coaching em Inovação e Empreendedorismo, pela BABSON COLLEGE/EUA; e Modelagem de Negócios Inovadores – Método SPRINT, pela COVENTRY UNIVERSITY/UK. Palestrante e consultor associado ao SEBRAE, FIEMG e OCEMG, é consultor organizacional com experiência em negócios e em estratégias de desenvolvimento setorial/territorial.