O medo da comunicação em público
*Reginaldo Rodrigues
Segundo estudos realizados por psicólogos americanos, “a dificuldade de falar em público é decorrente da insegurança. As pessoas têm medo de serem rejeitadas, de cometerem erros diante dos outros”. A sensação é de desconforto, pois, ficam mais expostas. Muitos profissionais expressam-se com facilidade se estiverem sentados. As ideias fluem com clareza e são emitidas com eloquência e de maneira concatenada, mas diante da necessidade de falar em pé a mensagem fica comprometida.
No jargão da comunicação essa insegurança é chamada de “trac”. Pernas tremendo, frio na barriga, mãos suando são decorrentes do “trac”. Reações absolutamente normais da mente e, por conseguinte do corpo diante de algo desconhecido. Muitas vezes a pessoa tem facilidade em falar mas não domina as técnicas, o que também é um problema.
“Passei a vida inteira com medo, medo das coisas que poderiam acontecer e das que poderiam não acontecer. O que eu descobri foi que o medo, essa é a pior parte. Esse é o verdadeiro inimigo.” É exatamente esse inimigo, citado por Walter White em Breaking Bad, que se apresenta sempre junto com as coisas novas, o elemento a ser controlado ou derrotado.
Esse medo, chamado de glossofobia atrapalha a vida de muita gente. Palestras, apresentações e reuniões de trabalho se transformam em momentos de angústia, a ponto de profissionais enjeitarem promoções nos empregos para não terem que enfrentar um grupo de pessoas à frente nas reuniões. A glossofobia não é incomum, grande parte das pessoas sofrem com ela no mundo todo. Aquela travada antes ou durante a apresentação em uma sala é muito mais comum do que imagina.
A origem do medo de falar em público, segundo o psicólogo e especialista em terapia comportamental Nicodemos Borges, Doutor em Psicologia, pode estar relacionada a uma ou mais experiências de vida da pessoa. “Pode ter a ver com a história que ela construiu na vida dela e como ela entende que as pessoas vão ouvir o que ela tem a dizer”, comenta. “Tem a ver com a preocupação que essa pessoa tem em relação à opinião alheia”, define.
Traumas na infância também podem influenciar no medo de falar em público.“Se a criança ouviu muitos comandos como ‘tome cuidado com o que você fala’ ou ‘não faça desfeita na frente dos outros’, pode afetar, mas não necessariamente”, comenta o especialista. O grau e o desenvolvimento deste medo vão depender, portanto, da conjuntura em que esse indivíduo se desenvolveu.
É importante destacar que nem sempre uma criança introvertida terá dificuldade de falar na frente de uma plateia futuramente. O mesmo raciocínio vale para uma criança extrovertida; ela pode ou poderá ter dificuldades de dizer o que precisa para um grande público. “Não é a mesma coisa. Alguém pode se sentir seguro falando para um grande grupo, mas de amigos. Muita gente não se sente segura com uma audiência que não conhece”, diz Nicodemos.
É compreensível que quem tenha medo ou vergonha de falar na frente de outras pessoas faça de tudo para fugir dessas situações, porém existem momentos em que não dá para correr, como por exemplo, nas apresentações de trabalhos, seminários e TCC, tão comuns em escolas e na faculdade. Mesmo quem já está no mercado de trabalho sempre está propenso a ter que mostrar os seus projetos para outras pessoas, por essa razão nenhum de nós está livre de falar em público. Fugir com certeza não é uma opção, esse problema é resolvido com a prática.
Há um ditado que é sobre o navio está em perfeita segurança quando está no porto, parado, quieto, apenas sentindo o leve movimento das águas em contato com o casco inerte. A mesma reflexão pergunta: – Para que o navio foi construído? Certamente não foi para ficar parado no porto. Nós também somos assim, precisamos buscar oportunidades e vencer nossos medos e dificuldades.
Não é de hoje que professores de Oratória ensinam técnicas para uma comunicação fluente. Antes de Cristo o filósofo Sócrates já dividia seus conhecimentos e compartilhava a facilidade que tinha. Na mesma época os Sofistas também davam aulas de retórica. No início do século 20, Dale Carnegie estudou profundamente o tema e mesmo após sua morte as escolas que levam o nome dele continuam formando grandes oradores.
Evidente que nossa pauta aqui é comunicação em público, mas digo sempre, que o medo e a ansiedade que sentimos não é em relação, somente, ao falar em público. Temos uma tendência natural a criar bloqueios em relação a tudo o que representa mudança de comportamento, de postura ou de posicionamento físico ou mental. Saiu do que estamos habituados, pronto, já vem ansiedade e o temor.
Você se lembra a primeira vez que se sentou no banco do motorista para dirigir um carro, ou do primeiro dia de aula, sei que lembra. Lembra do dia do casamento ou da formatura? Dos primeiros encontros com aquela pessoa especial? O frio na barriga sempre estava lá. A preocupação com a troca de empresa e como seria recebido pela nova equipe, absolutamente natural.
O falar em público, é a mesma coisa. Após fazer isso várias vezes a apreensão vai diminuir, e poderá até passar por completo. Isso acontece, pois, seu corpo e mente sentirão a segurança de quem já domina aquele espaço, tema ou público. Seguramente a dificuldade é superada com a repetição da ação, o que não significa que deva “meter a cara” de qualquer maneira em uma aventura desvairada rumo ao desconhecido.
O medo do não controlável, do que surpreende, que chega sem ser convidado ou aparece de onde não se espera, o medo do novo e do desconhecido é uma das grandes dificuldades humanas, e como eu disse, normal. A possibilidade do novo costuma acionar alarmes, provoca angústia, tira o prumo. O contato do desconhecido desperta muitas vezes a sensação de estar pressionado sem saber direito de onde vem essa pressão.
Acredite, sempre há mudança. A leitura deste texto já está movimentando “sua cachola” aí, tenho certeza. A água que corre no rio é do mesmo rio, mas já não é mais a mesma água. Somos seres constituídos pela mudança e precisamos aceitar a correnteza da água da vida, nadando ao seu favor ou contra, dependendo o caso, mas o novo nos faz seguir adiante. Tem essa dificuldade? Enfrente.
* Reginaldo Rodrigues é Escritor, Consultor, Professor e Palestrante. Com mais de 25 anos de experiência em comunicação profissional, atuou como Radialista, Mestre de Cerimônias e Media Training, coordenou o Marketing em campanhas eleitorais de candidatos a Deputado, Prefeito e Vereador. Publicou 2 livros e 1 DVD sobre o tema Marketing e Comunicação.
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